O mês de junho é marcado pelas comemorações ao Dia Nacional da Imunização, cuja data de 9 de junho foi criada para conscientizar a população sobre a importância de manter atualizada a carteira de vacinação e um alerta da principal forma de prevenir doenças. Pensando nessa data, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI) traz importantes pesquisadores das suas vinculadas: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Esses cientistas não só salvaram vidas com as suas pesquisas e os seus conhecimentos como mudaram a saúde e a ciência do mundo. De forma visionária, eles dedicaram o seu tempo em ações de imunização responsáveis por prevenir doenças como a Covid-19, a dengue, entre outras.
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O Brasil é reconhecido mundialmente pela sua eficácia na imunização, pois tem um dos melhores e mais completos calendários vacinais do mundo, é o que aponta o Programa Nacional de Imunizações (PNI). É através das vacinas que o sistema imunológico é estimulado a produzir os anticorpos necessários para evitar o desenvolvimento de doenças e infecções caso a pessoa tenha contato com o vírus.
Médico Infectologista, professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e diretor do Instituto Butantan, Ésper Kallas foi o primeiro autor do artigo publicado no The New England Journal of Medicine (em janeiro de 2024), que aponta como uma vacina de dose única com tecnologia nacional e produzida pelo Instituto Butantan se mostrou eficaz e segura contra os sorotipos da dengue. Na fase 3 dos dados do ensaio clínico, contou com 16.235 participantes em 16 centros de pesquisa espalhados pelo Brasil.
“Quando falamos de vacina da dengue, estamos, na verdade, falando de quatro vacinas ao mesmo tempo. Esse é o aspecto mais difícil: fazer com que quatro vacinas contra os quatro tipos de vírus da dengue andem em caminhos paralelos e induzindo à proteção de forma equilibrada”, explica Kallas. A eficácia geral do imunizante no período foi de 79,6% entre participantes sem evidência de exposição prévia à dengue e de 89,2% entre aqueles com histórico de exposição. A expectativa do instituto é submeter ainda este ano a vacina para aprovação da Anvisa.
Carlos Fortaleza, médico epidemiologista da Unesp, na Faculdade de Medicina de Botucatu, e pesquisador da vacina Astrazeneca, contou que a ideia do imunizante nasceu de conversas entre a Unesp e a Prefeitura de Botucatu. “Havia o anseio do poder público pela vacinação em massa, e a questão de pesquisa genuína de como as vacinas contra Covid-19 funcionavam em uma situação de ‘vida real’. Isso porque os ensaios clínicos que são feitos antes de qualquer liberação de uso de vacinas e medicamentos costumam envolver grupos de pessoas mais jovens e saudáveis. Porém, a população geral tem heterogeneidade em idade e condição básica de saúde. Por essa razão, nem sempre os bons resultados nos ensaios clínicos se repetem na população. Queríamos saber como seria a real efetividade,” explica.
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Ele disse que, através de colaboradores em comum, entrou em contato com a Universidade de Oxford e eles ficaram interessados em um estudo de efetividade da vacina AztraZeneca. “Eu fui responsável pelo delineamento metodológico e redação do projeto, feita em curtíssimo prazo. Em três dias apresentamos a proposta aos epidemiologistas de Oxford. O passo seguinte foi conseguir a doação das vacinas pela Fiocruz (então administrada pela atual ministra Nísia Trindade), autorização do Ministério da Saúde e aprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa”, comenta o pesquisador sobre o ágil desenvolvimento da vacina.
Fortaleza foi responsável pela coordenação operacional, com apoios diversos: do prefeito de Botucatu, Mário Pardini, do secretário de saúde, André Spadaro, do reitor da Unesp, Pasqual Barretti, e de diversos pesquisadores da Faculdade de Medicina de Botucatu.
Ele falou sobre a importância dos imunizantes e das pesquisas para que eles sejam criados e ressaltou como eles agem na saúde da população: “As vacinas operaram uma revolução na saúde: erradicou-se definitivamente a varíola e a poliomielite, por exemplo. Doenças potencialmente graves como o tétano, a difteria, o sarampo e a meningite tiveram sua incidência e mortalidade reduzidas de forma evidente. Por fim, vacinas como a da gripe diminuem internações e mortes da população idosa todos os anos”, disse.
Ele enfatiza que a vacina vai além da saúde pessoal, mas é uma prática que impacta na sociedade de forma positiva. “Vacinar-se não é somente um ato de proteção individual, mas também um compromisso de cidadania. As vacinas evitam que adoeçamos e também que transmitamos agentes infecciosos a outras pessoas”, reforça.
Professor na Unicamp, o médico infectologista Francisco Hideo Aoki coordenou na universidade os testes da vacina contra a Covid-19, a Coronavac. Tudo começou quando receberam um convite do Instituto Butantan para participar do estudo clínico da primeira vacina que seria desenvolvida no Brasil em parceria com empresa chinesa a Sinovac com transferência de tecnologia.
A pesquisa envolveu 16 centros de pesquisa espalhados pelo Brasil, sendo alguns nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Inicialmente, coube à Unicamp a busca e seleção de 500 voluntários de pesquisa e, um ano depois, coube à instituição aumentar para 1000 o número de voluntários. Entre os colaboradores, estavam médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de pesquisa, técnicos de laboratório, entre outros auxiliares administrativos.
“Eu tive a honra de ser o Investigador Principal (IP) neste centro, atuando diretamente em todos os setores para organização de toda a equipe, com trabalho que não tinha fim, íamos até muito tarde da noite. Havia muita pressão para que essa pesquisa saísse o mais rápido possível e a vacina tinha objetivos como reduzir a mortalidade das pessoas e a gravidade da doença”, explica o professor.
A pesquisa durou cerca de dois anos e, com as avaliações clínico epidemiológicas, chegou-se a uma eficácia de pouco mais de 50%, suficiente para liberação para uso da população de forma muito segura para que se atingisse uma meta de reduzir a mortalidade e a gravidade da doença.
“Vacinas têm simplesmente mudado a face das doenças infecciosas, principalmente naqueles países em que se faz vacinação em larga escala protegendo as populações, evitando o desenvolvimento de doenças, em uma boa parte evitando o desenvolvimento de doenças graves. Conclamamos toda a população a acreditar na ciência, pois todas as vacinas são baseadas em estudos científicos muito rigorosos, duros e difíceis de serem realizados. Submeter-se à vacinação é fundamental, de acordo com o calendário vacinal do Ministério da Saúde e, sempre que necessário, para não só cada pessoa se proteger, mas ter a responsabilidade de proteger todos os indivíduos da sociedade sem exceção”, completa.
O professor reforça sobre a mudança positiva que as vacinas têm na vida das pessoas, protegendo de doenças e evitando pandemias. Além disso, todos os estudos e testes são feitos baseados em pesquisas rigorosas e profundas.
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